Retomada de rotina escolar pode ser desafio para pais e filhos estudantes
Psicopedagoga dá dicas de como se preparar para este tempo
Dormir até despertar espontaneamente e ainda tirar aquele cochilo à tarde, além de ter compromissos só com os desejos de brincar, comer o que tiver vontade e passear. Tudo isso faz parte do pacote de férias. Uma realidade, principalmente, de famílias com crianças e adolescentes.
Mas o ano letivo começa e é hora de retomar a rotina, despertar velhos hábitos para encarar da melhor maneira as tarefas do dia-a-dia. Nas escolas da rede estadual de ensino de Minas Gerais as aulas retornarão no dia 6 de fevereiro. O que tem deixado muitos pais e responsáveis “de cabelos em pé,” preocupados em como fazer os filhos se prepararem para retornar à rotina de aulas, deveres de casa e demais tarefas escolares.
A psicopedagoga Camila Carla de Souza Ferreira fala sobre a necessidade e os benefícios de todos nós termos uma rotina, já que isso torna as tarefas do cotidiano previsíveis e, para a criança, essa previsibilidade é essencial no sentido de evitar ansiedade, possibilitar “organização para estabelecer o que é importante do que não é, ajudando a aproximar o contexto dessa criança com que se espera dela. ”
Estratégias que geram autonomia
Camila chama atenção para o fato de que o sucesso na execução dessa rotina estabelecida, precisa ter respaldo concreto para não se tornar algo negativo. “Não sobrecarregar mecanismos do cérebro, responsáveis pela tomada de decisão. ” Ela ainda explica que, assim como os adultos necessitam de uma agenda para desempenhar as variadas funções do dia, é saudável que a criança tenha, por escrito, as atividades que ela tem para realizar. O que pode ser de acordo com a capacidade de compreensão dela: construção de um painel, agenda manipulável, utilização de imagens para os pequeninos. “É importante ensinar a criança a conhecer a atividade que ela tem para fazer, executar atividade e retornar para verificar que foi feita. ”
Segundo a profissional, essa prática capacita a criança assimilar as tarefas e executá-las de forma autônoma. “Num primeiro momento ela vai ter a presença de um mediador. Com o passar do tempo, ela consegue executar essa rotina de maneira fluída sem precisar de alguém dizer pra ela o que fazer”.
Ela também ressalta que essa rotina pode ser associada a um sistema de recompensas. Isto é, oferecer algo à criança quando ela executar o que se espera dela ou mesmo elogiá-la. "Então é importante alternar a os elementos dessa rotina com coisas ela gosta, que dão satisfação pra ela como uma brincadeira, um momento com o um familiar passeios combinados previamente".
Organização do material, sono e refeições na hora certa
A partir disso, pais e responsáveis devem fazer o dever de casa. Planejar e se preparar com antecedência, separando e organizando o material escolar é bom começo para a retomada da rotina. “Planejamento é tudo. Alguns dias antes do retorno, organizar o material com a criança, com calma, preparar rotina”. Que deve estar associada ao hábito de sono compatível com as exigências do período letivo, pois é comum a criança ficar, até o último dia de férias, dormindo e despertando em horários diferentes daqueles aos quais está habituada em dias de atividades escolares. “Importante para que a criança vá assimilando essa nova rotina de sono e consiga estar bem. Consiga estar preparada, atenta às informações que serão dadas a ela para executar as tarefas”, salienta a psicopedagoga.
O desafio de restabelecer a rotina do sono para os tempos de aula é uma realidade na família de Tatiana Ferreira do Santos. Mãe de dois pré-adolescentes: Nícolas Marques dos Santos, 15 anos e Jonathan Marques dos Santos, 13, relata ter iniciado esta semana, que antecede o fim do período de férias, o “árduo trabalho de colocar tudo no eixo.” Conta que está impondo limite nos horários para os filhos dormirem e acordarem. Isso porque tem sido comum eles ficarem assistindo a filmes e conectados jogando até mais tarde e, consequentemente, se levantarem mais tarde também. O cuidado com a hora do preparo das refeições é outro ponto observado por ela. “Também volto a preparar as refeições no horário de costume de quando estão em período escolar, pois, no período de férias costumamos ficar mais maleáveis e menos rigorosos com estes horários e também com tipo de alimentação” No que se refere ao exercício intelectual, Tatiana não relaxa “acredito que praticar leituras também ajuda a familiarizar com o ambiente escolar”.
Em todo esse preparo, diálogo é também ingrediente fundamental para fazer desse momento de volta às aulas leve e prazeroso, já que algumas crianças demonstram insegurança com as mudanças de turma, professores ou de escola. O receio diante do novo pode acarretar algum desconforto e bloqueio. ”Esse receio é muito comum. Porque ninguém nasce sabendo como se comportar diante dessas situações. E a falta de repertório pode trazer angústia, bloqueios”.
Nesse entendimento, Tatiana conta que mantém conversas com os filhos sobre possibilidades, novidades, mudanças para o ano letivo que irá começar na tentativa de afugentar ou minimizar os desconfortos que a nova realidade passa provocar na vida deles.
Camila lembra ainda que os pais ou responsáveis de crianças devem se atentar para os anseios que povoam os sentimentos dos pequeninos quanto à volta para a escola e o reencontro com velhos amigos e/ou conhecimento de novos. “Pensando nisso, o cuidador pode mostrar com diálogo ou até mesmo recursos concretos como figuras, encenações, dramatizações, como reagir ensinando falas para iniciar uma conversa, por exemplo”.
Situação mais favorável vive a servidora da Fundação Caio Martins, Lucely Carneiro de Oliveira de Miranda. Diz que a pequena Giovana de Oliveira Miranda, 6, é habituada com o ambiente escolar pelo fato de, desde bebê, estar matriculada na creche e agora deixa o ensino infantil para o ensino fundamental, numa escola estadual, no bairro onde mora.
Embora a criança mantenha uma relação amigável com a rotina escolar, a mãe diz que não se descuida. “Mesmo de férias a gente faz atividades como ela, continhas de matemática, atividade de alfabetização. Eu procuro atividades adequadas à idade dela para não sair da rotina”
Escolas da Fucam e início das aulas
O início do ano letivo nas escolas da Fucam será dia 6 de fevereiro. O calendário segue o estabelecido para toda rede estadual de ensino em Minas Gerais
Atualmente, a Fundação Caio Martins tem sob sua gestão oito escolas, sendo duas delas situadas na cidade de Diamantina, Região Central de Minas. As demais estão cada uma nos Centros Educacionais das cidades: Esmeraldas, Região Metropolitana de Belo Horizonte; Buritizeiro, Januária, Juvenília, São Francisco e Riachinho no Norte e extremo Norte do estado.
Texto: Cléria Marques
Fotos: arquivo Pessoal/Freepik