Mulheres Têm Participação Tímida na Ciência
O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado neste 11 de fevereiro é importante marco na inserção do gênero feminino na área da Tecnologia, Engenharia, Ciência e Matemática.
Instituída em 2015 pela Assembleia das Nações Unidas, sob a liderança da Unesco e da ONU Mulheres, a data é celebrada em diversos países, com atividades que objetivam dar visibilidade às contribuições das mulheres nas áreas de pesquisa científica e tecnológica.
A Fundação Caio Martins (Fucam) reconhece a relevância do tema e, por meio da promoção de feiras de ciências em suas escolas, incentiva alunos e professores à prática de experiências científicas. Professora Escola Estadual Jerônimo Pontello, no município de Couto Magalhães, integrada ao Centro Educacional de Diamantina, no Norte de Minas, Ana Concebida Alves Campos diz que promover eventos de ciências nas escolas é um bom começo para inserir os alunos e, principalmente, as meninas na atmosfera científica. Para ela, eventos dessa natureza devem ser frequentes no ambiente escolar.
A feira de ciência anual é exemplo de como a o assunto é levado a sério naquela escola. No evento de 2022 os alunos apresentaram projetos que materializaram o conhecimento teórico explorado em sala de aula.
Quem esteve por lá pode conhecer, por meio de trabalhos dos alunos, sobre as reações químicas, as Leis de Newton, geração de energia, magnetismo e, ainda, sobre os tipos sanguíneos, fator RH, diabetes, e sobre tantos outros temas presentes no cotidiano.
Aluna do 3°ano, ensino médio, Ianny Pabline Nascimento Neves (à esquerda na foto) relata ter gostado de participar da feira com um trabalho sobre reações químicas. “Conseguimos nos divertir, e ainda sim, entregar com qualidade o trabalho proposto.” A jovem diz que se prepara para prestar exames para o curso de Medicina, mas enxerga outras opções de carreira.
Rayane Nunes Salgado, professora na escola Núcleo Colonial Vale Urucuia, pertencente ao Centro Educacional Riachinho, no Norte do estado, avalia que “quando se fala em cientistas e pesquisas só temos na memória nomes masculinos que contribuíram para o desenvolvimento da ciência”. Ressalta a escola como ponto de contato entre aluno e a ciência “é a porta de entrada para essas mulheres e meninas se alavancarem, dando oportunidade para elas irem mais além com pesquisas e trabalhos em geral. ” Observa a existência da desigualdade entre gênero como desafio a ser vencido e, para isso, diz que deve haver ampliação do diálogo acerca dessa temática. “É necessário criar caminhos para inserir cada vez mais essas mulheres e meninas na ciência. ”
Ela ainda ressalta que a escola tem papel fundamental à medida que apoia e incentiva a participação das mulheres em pesquisas, projetos e ações. Embora reconheça que nos últimos tempos essa participação venha sendo mais efetiva, julga que ainda é pouco. “Há muitos casos de mulheres cientistas que ganharam destaque e sobressaíram no campo da ciência, mas ainda precisa ser melhorado para que cada dia elas possam se evoluir e ganhar destaque.”
Dados do relatório da Unesco (2022) apontam que 74% das meninas expressam o interesse no campo da ciência, tecnologia, matemática e engenharia. Contudo, apenas 30% das pesquisadoras do mundo são mulheres. Estatística que Rayane também observa: “quando se fala em cientistas e pesquisas, só temos na memória nomes masculinos que contribuíram para o desenvolvimento da ciência”.
O documento revela esse contexto de exclusão de meninas e mulheres nas áreas de STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática) corroborado durante o Fórum Econômico Mundial (WEF, 2021), o qual demonstrou que mesmo com taxas de matrícula semelhantes entre estudantes do sexo masculino e feminino na educação primária, na secundária ou na superior, apenas em torno de 10% das mulheres brasileiras que estudam em universidade estão matriculados em cursos de STEM, contra 28,6% dos homens. Embora possa ser observado avanço, dados do IBGE (IBGE, 2021) revelaram que a matrícula de mulheres na educação superior nas áreas de engenharia e afins continua baixa (21%), e apenas 13% na área de computação.
Conforme estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) publicado no relatório mostrou que as mulheres se deparam com ambiente sexista já nas universidades (tanto por parte dos professores quanto de colegas), abalando gradualmente a confiança em suas habilidades e compatibilidades com as áreas de STEM. Outro motivo citado como causa para a desistência está relacionado à percepção de que a profissão não estaria direcionada a causar impacto social, um valor importante citado com mais frequência pelas alunas ouvidas.
Texto: Cléria Marques
Fotos: arquivo pessoal/freepik